sábado, 23 de abril de 2011

Galinhas D'Angola

            Estava eu na minha varanda, tomando meu suco de laranja logo cedo, quando aquele bando apareceu.
           Elas sempre estiveram em casa, e eu nunca parei pra prestar atenção nelas.
           Naquele momento resolvi reparar.
           Todas pintadinhas, bonitinhas. 
           Normalmente, ninguém gosta de galinhas, nem eu. Mas sei lá... Elas são interessantes.
Ficam nervosas muuuuito facilmente. É engraçado, até. 
           Quando se alimentam, o líder fica espionando pra ver se não há nenhum inimigo por perto. É divertido. Imagine: ele olhando de um lado pro outro, todo preocupado. Retardado, não? Isso porque, enquanto ele vigia, os outros comem. Não deveria ser o contrário? Se ele é o líder... 
           Mas não para por aí, não. As Galinhas D'Angola são péssimas mães. Simplesmente, largam os ovos (que podem chegar até 40) em camadas. Em camadas! Ou seja, só os de cima recebem o calor e descascam.
          No entanto, há uma grande semelhança entre elas e a maioria das mulheres atuais. Aliás, talvez por isso que haja a dominação "galinha" e até seja o porque de, ao digitar no Google "galinhas", você só encontrar coisas relacionadas a prostitutas, filmes pornôs e afins. Sim, na hora do acasalamento, a iniciativa é da fêmea. Não que as mulheres não possam tomar iniciativas (às vezes é até necessário), mas algumas exageram. Há coisas que, feliz ou infelizmente, só homens podem fazer. Mas sei lá... É o que eu acho, não significa que você tenha que pensar assim também.
          É, galinhas são interessantes. 
          Mas uma coisa que eu realmente admiro nelas é a compaixão.
          Outro dia, os infelizes aqui de casa soltaram as pastoras e esqueceram de prender as galinhas. Pois é, uma delas foi atacada cruelmente e estava sofrendo demais. Seria necessário o sacrifício. Mas o que, realmente, me surpreendeu foi que suas companheiras estavam em volta, preocupadas. Foi bonito. 
          Praticamente, não existe mais isso na nossa sociedade. As pessoas estão tão acostumadas com mortes e homicídios, que nem ligam mais.
          As pessoas ainda têm coragem de dizer que animais não possuem sentimentos. É, talvez devêssemos prestar mais atenção nas galinhas, porque quem anda sem sentimentos somos nós, e não elas.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Falando nisso

Não consigo achar o fundamento das coisas: por que eu estou aqui, por que minha vida é desse jeito e não de outro, por que cada um nasce em condições diferentes e alguns acabam mais favorecidos do que outros. Por que eu nasci na minha família, por que eu nasci? Qual a minha função nessa vida? Eu tenho alguma função? Cada um tem uma função? Somos peças de um grande quebra cabeça de vidas que se juntam para formar um grande quadro de histórias? Para quê? Por que tudo existe?

Eu sei que são questões filosóficas um tanto batidas e que durante milênios de humanidade ninguém ainda conseguiu encontrar verdades absolutas para todas elas. Muita gente não se importa, muita gente acha perda de tempo, acha até brega. Afinal tanto faz, o que importa é existir, é o lado prático. Mas como saber o que fazer da minha vida se eu não sei por que eu estou aqui? Para satisfazer minhas vontades, meus desejos, minhas metas e viver pensando sempre no meu bem estar, na minha felicidade? Sim, ótimo. Mas e se não for bem isso? E se eu tiver um propósito maior? E se eu estiver aqui para fazer alguma diferença, para tentar mudar, para tentar inverter a situação de quem não nasceu no mesmo ambiente em que eu nasci? E se eu tiver que mudar o rumo das coisas? E se eu não conseguir cumprir com esse dever?

Não seria nada justo ter toda essa sobrecarga nas minhas costas enquanto muitos outros andam por aí se aproveitando da ignorância alheia para se sobressair socialmente. Mesmo assim eu sinto como se eu não pudesse ficar parada e deixar a vida me levar para o que der e vier. A vida não é justa. Alguém já disse isso. Não temos culpa se nem todo mundo pode viver do mesmo jeito e ser feliz do mesmo jeito, mas vivemos em sociedade e somos obrigados a assistir essa fila interminável de injustiças, falta de compaixão, moral e enxergar uma perspectiva nada agradável do futuro. O que fazer então? Sentar e curtir a vida cada um no seu canto como se tudo isso estivesse fora da linha onde termina a minha obrigação nesse mundo e começa a do outro? Ou parar para pensar o que eu estou fazendo aqui e por que eu nasci assim e tive essa educação e fui criada por essas pessoas.

Eu não acredito em destino. Sinceramente não faz sentido nenhum para mim ter um futuro certo, fora do meu alcance, como se nada do que eu fizesse mudasse o rumo das coisas e tudo acontecesse porque tinha que acontecer. Talvez seja verdade, não posso ter certeza absoluta sobre questões assim, mas não faz muito a minha cabeça. Porque se a minha vida já está toda traçada, então não preciso fazer mais nada, as coisas simplesmente aconteceriam sem o mínimo esforço. Mas se eu não tenho a mínima ideia de como eu vou acabar daqui para frente, alguma atitude vou ter que tomar, de acordo com o que eu espero que os resultados das minhas ações terminem, mesmo se terminarem em algo totalmente oposto ao esperado.

O que eu quero dizer é que de alguma forma estamos aqui para fazer alguma coisa, seja ela qual for, para que alguma outra coisa aconteça. O que fazer então? O que decidir agora? Prestar vestibular, tentar uma boa faculdade, me formar, trabalhar, ganhar dinheiro, casar, ter filhos, netos, morrer. Fim. Grande história. Ou tentar descobrir um jeito de não ser tão fechada e desvinculada, participar do rumo das coisas e continuar sempre me perguntando o por quê.