terça-feira, 17 de maio de 2011

À tarde

Tardes perfeitas de outono, a temperatura amena, o sol levemente alaranjado na sua pele e as poucas nuvens espalhadas pelo céu. As árvores parecem mais saudáveis, enquanto os frutos ainda não apareceram ou as folhas ainda não caíram.
Tardes perfeitas de outono, um livro na mão e uma boa árvore acima da cabeça. Seu pai assistindo ao futebol no sossego da sala e a luz do pôr-do-sol refletindo na tv.
Tardes perfeitas de outono quando você sente como se tudo fosse dar certo e nada estivesse errado naquele momento. Tudo parece girar e caminhar perfeitamente.
Tardes em que o que te aborrece vai embora com o calor do dia e volta com o frio da noite. Noites em vão, que te fazem lembrar que um dia os frutos apodrecem e as folhas caem, colocando tudo de volta no lugar. Porque no final das contas, o outono só é perfeito à tarde.

domingo, 15 de maio de 2011

Holografia

Já sentiu como se tudo fosse uma grande mentira? Olhar em volta e se perguntar seriamente o que você está fazendo aqui.
Dias em que você acorda, abre o olho e se assusta, porque seus sonhos pareciam ser muito mais reais do que essa realidade. Você tenta voltar a dormir, voltar para aquela história que parecia tão duradoura, mas que na verdade durou só alguns minutos, e não consegue, como se esse mundo te forçasse a permanecer "acordada" até a noite seguinte.
Eu imagino um filme da minha vida. Não que eu compare a minha vida com um filme, mas fico imaginando como seria se fosse um. Como ele terminaria. Tento imaginar um começo, mas não lembro muito bem quando começou e tudo o que eu vivi parece que nunca existiu. Tudo parece ter sido um sonho, um esboço de vida.
Uma noite dessas quase não consegui dormir. Tive um estalo de realidade, como se naquele exato momento alguma falha no sitema tivesse acontecido e eu acordasse de verdade e percebesse que existir não faz sentido algum.
Talvez seja falta de fé e consequentemente a necessidade de acreditar em Deus ou em alguma força maior. Se você não tem uma base, um motivo, uma explicação para estar aqui, então nada faz sentido.
Parece muito surreal, mas pensando bem não é. Nada é surreal se você levar em conta que ninguém aqui é detentor de nenhuma verdade absoluta. Nada pode ser comprovado, a não ser que de alguma forma existimos, apesar de não sabermos como exatamente, nem por que.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pessoas, problemas e profissões

Todos sofrem do mesmo jeito. Você pode idealizar a vida de uma pessoa o quanto quiser, mas ela não deixa de sofrer tanto quanto você. Ninguém se livra disso.

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As pessoas vivem perguntando para os jovens: " O que você pretende fazer?".
Sério, alguém no mundo sabe o que fazer da própria vida? Independente da idade. Deveria responder "Não sei, você sabe?".
Mas não é aí que eu quero chegar. O que eu pretendo dizer é que eu e mais todo ser humano adolescente sentimos medo das mesmas escolhas. Compartilhamos todos do mesmo pavor de faltar dinheiro, de se arrepender da profissão, de não ser feliz, de falhar na vida.
Só que eu não quero viver agora para escolher uma profissão. Não quero nem ter que escolher uma profissão, eu quero conhecer o mundo, estudar sobre a vida, sobre a arte, sobre o ser humano e a história, quero ser culta, viajar. Profissão? Como é que eu vou saber, é tanta coisa para conhecer e trabalhar é tão menos importante existencialmente do que viver.
Aí entra a porra do dinheiro. Você tem que ganhar para viver. Ganhar como? Arrumando um emprego, que conseguimos através de um bom currículo, que se consegue com uma boa formação. Aí você é obrigado a ter uma formação. Poxa! A sociedade facilitou tanto a minha vida que deixou tudo separadinho em cursos e mais cursos espalhados nas milhares de faculdades que ficam piscando por aí. Fica tudo tão mais simples não? Não.

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Ter os mesmos problemas que todo mundo tem é ao mesmo tempo irritante e confortante. Me sinto banalmente comum, mas ao mesmo tempo tenho aquela sensação de que pelo menos não sou a única.
No fim acabo tendo que trilhar o mesmo caminho que todo mundo, obviamente. Todo ser que nasce nessa sociedade nas mesmas condições tem que passar pelas mesmas coisas. Coisa mais chata.
E se eu arrumasse um emprego qualquer, juntasse dinheiro por um tempo e depois fizesse o que eu quisesse?
Não, mas as coisas não funcionam assim.