Ao longo dos mais de dois mil anos de existência, a filosofia, junto com a ciência, analisa e tenta explicar racionalmente a mentalidade humana e seu comportamento. Mas se a nossa mente fosse tão simples ao ponto de podermos entendê-la, seríamos tão burros que não o faríamos.
Até onde sei, não podemos entender o que somos. É algo que está além da nossa capacidade. No entanto, podemos agir corretamente independentemente de saber por que agimos assim.
Segundo a linha de estudo da moral de Kant, a capacidade de distinguir entre o certo e o errado é inata em todos nós, assim como a razão. Todos temos uma moral, por assim dizer. Seguindo essa lei moral interna, Kant formula seu imperativo categórico: "Age apenas segundo aquelas máximas através das quais possas, ao mesmo tempo, querer que elas se transformem numa lei geral." Em outras palavras, não fazer para o próximo, aquilo que não queremos para nós mesmos.
Não cabe a nós responder o porquê, mas sim nos esforçar para superar os impulsos que nos levam a desobedecer essa "lei" e superar o egoísmo que nos escraviza.
Agir em liberdade é o que nos torna humanos, visto que os animais são escravos dos próprios impulsos. O mais importante é conseguir com que todos cresçam e vivam segundo essa moral, desde pequenos, aprendendo a importância de se respeitar o outro e agir corretamente, por mais difícil que pareça ser às vezes. Pois é isso o que nos torna livres de nós mesmos (levando-se em conta que existem diversos tipos de liberdades).
A liberdade é sempre limitada por algo ou alguém. Ter uma identidade e expressar-se de acordo com ela exige de nós a consciência de que existem outras identidades e expressões que devem ser respeitadas. Sendo assim, cada um possui o direito de expressar-se sem descaracterizar o outro.
Conviver demanda uma série de privações e, ser você mesmo, muitas vezes, implica em seguir uma ética, em fazer parte de um coletivo interligado por relações políticas nas quais um deve ceder ao outro e este a outro e assim sucessivamente.
Ser individual por completo é ser sozinho. É poder se expressar inteiramente e abrir mão de relacionar-se com o resto do mundo. Há sempre uma perda de identidade e, por consequência, de liberdade, quando se tenta preservar a alheia.