terça-feira, 25 de outubro de 2011

Brigadeiro com chuva

Ela estava inteiramente lá, ocupando seu pequeno espaço de forma absoluta. Queria fazê-la parar aquele oceano de águas azuis e claras que despencavam daqueles olhinhos, sem cessar.
Tudo por causa daquele ursinho imbecil em que, de forma cruel (admitiu consigo mesma), jogou aquele baldinho de tinta cintilante.
Pobre criança, sabia que não tinha culpa, mas sua cabeça também ainda infantil, porém um pouco mais madura do que aquela que, para ela, havia invadido seu castelo, acreditava piamente que aqueles caichinhos saltitantes tinham chegado para tomar o seu lugar, mesmo que de forma involuntária.
Tinha cores que lhe lembravam doces de dia das bruxas, e umas orelhas bem redondas, fáceis e macias de pegar. Na época, sua diversão era ameaçar jogá-lo pela janela e fazê-la espernear com a agonia de pensar em ficar sem aquela criatura bizarra que era aquele bicho.
Naquele exato momento, se sentiu uma péssima irmã, tentando desculpar-se em vão. Achava aquilo muito exagerado, todo aquele berreiro, e ela lhe perguntava com uma vozinha enjoativamente doce, por que havia feito aquilo.
Desistiu de tentar acalmar aquela criatura insana, percebendo que deveria deixá-la viver sua tristeza. Toda aquele sentimento concentrado em algo tão superficial, só podia ser porque naquela idadezinha, não se acredita ou pensa em um futuro feliz ou futuro algum.
Ao nascer do Sol, tudo estava claro e limpo, e as duas se lambuzavam com amora, sentadas na grama com seus vestidinhos de poás coloridas, enquanto riam ao brincar com o cachorro.


(Texto escrito em 04/09/08)

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