terça-feira, 8 de março de 2011

Pureza

            Era de manhã. Não tinha o que fazer.
            Peguei meu carro e fui dirigindo pelas ruas... Buscava algo, não sabia o que.
            De repente vi aquela família. Estavam de mudança. Um menino, sua mãe, seu tio e sua avó.
            Ele corria pela varanda da casa. O espaço era grande.
           Os adultos tirando os móveis da casa, tudo. Tinham que se mudar, o aluguel havia subido e eles não tinham a quantia para pagar.
           As lágrimas daquela senhora corriam por aquele rosto enrugado, através daqueles olhos azuis que já haviam presenciado tantas coisas durante a vida.
           A mãe suspirava, como se estivesse despedindo-se daquele maravilhoso lugar, onde havia tido tão maravilhosos momentos.
           Ao tio, pouco lhe importava, não morava com a família mesmo...
           Mas o garoto, aquela criança de apenas seis anos, não sabia o que estava acontecendo. Apenas se divertia, correndo de um lado pro outro. Tentando ocupar aquele grande espaço ao mesmo tempo. Mal sabia ele que seria a última vez que correria ali. O pobre não mais teria um espaço daquele pra se divertir.
           Eles tinham terminado de colocar as coisas no caminhão para levar pra outra casa. Menor e sem varanda pra o garoto brincar.
          A senhora estava pra fechar o portão, quando chamou o garoto. Ele saiu correndo mais uma vez. Porém, apareceu com as mãos escondidas atrás das costas. De repente mostrou-as, fechadas. Esperou a avó fechar o cadeado. Chamou sua mãe. Olhou para as duas e abriu as mãos. Havia uma maria-sem-vergonha pra cada uma. Entregou-lhes e disse que as amava.
          Embora não soubesse a circunstância pela qual estava passando, sabia que as duas mulheres que mais amava não estavam bem.
          Não foi planejado, foi espontâneo.
          As duas abraçaram o menino, abriram um grande sorriso e saíram andando. A nova casa era ali perto. O tio levaria a mudança.

Nenhum comentário: