sábado, 16 de julho de 2011

Biografia ?


Fiquei perdida por muito tempo, querendo saber se eu ainda existia. Talvez seja esse todo o problema.

Perdi  um outro lado muito importante (não diria ter perdido, mas ocultado a maior parte do que eu era), o despojado, do contra, espontâneo, em outras palavras, aquela menina branquela, magrela, cheia de roxos na perna, que não estava nem aí se a roupa iria sujar, se o cabelo despenteava e me deixava parecendo mais um mico-leão-dourado, olhava no espelho e ria. Aquela que lutava judô ao invés de fazer balet, que ao mesmo tempo gostava de trocar as roupas das bonecas e montar casinhas minuciosamente, adorava jogar bola e andar de bicicleta. Que brincava de lutinha com os meninos da escola (e ganhava), mas que também não tinha medo de dar uma joelhada bem dada naquele lugar quando mereciam. Juntava os primos e fazia bagunça, gritaria, tentava evitar os conflitos, pegava os mais novos pelo colo e saia correndo pela casa, andava de patins no corredor, ficava o dia inteiro no vide-game quando todo mundo se empolgava para jogar. Muita coisa que hoje não faço mais. Os dias demoravam a acabar e perder tempo naquela época não fazia o menor sentido.
Fazer o que der vontade sem se importar com bobagens que hoje acabam estragando o potencial da diversão. Qualquer tipo de diversão.
Caso não tivesse guardado esse lado, tudo poderia ser um pouco melhor, mais empolgante e menos frustrante do que anda sendo. Foi como se eu tivesse criado essa vergonha besta de apenas ser, fazer e mais nada.

Ser de verdade é ter coragem para abandonar os preconceitos, receios e vergonhas que isso possa implicar, é aceitar todos os detalhes sobre si mesmo que possam não ser tão incríveis e conseguir achar graça. Senão somos só uma ocupação de espaço, um gasto de energia, um desgaste a mais para a natureza.

Me sinto uma bonequinha de luxo. Eu nunca fui assim. Quero voltar a ser de verdade, com cicatrizes, ir dormir sempre com um roxo novo, como uma marca de que alguma coisa aconteceu durante o dia. Quero ter de volta a vontade de subir no topo do trepa-trepa, sem a malícia, e poder dizer com a absoluta certeza que eu sou a dona do mundo, pelo menos do meu.

                                                                                                                   Go Depp.

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